terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ordem e Caos



Sábado. Nem muito cedo, nem muito tarde. Nem muito frio, nem muito quente. Dia com cara de preguiça. E ela vai pisando em tudo que vê pela frente...roupa, papel, tudo. Quem pára para observar tem a idéia de que ela sofre em busca de um lugar vago pra por mais bugigangas. Abre armário, fecha armário, abre caixa – muitas caixas – fecha caixa. Tira bolsa, cinto, chapéu, cartas, bichinhos de pelúcia...mais bugigangas. A cama ainda desarrumada enche-se de miscelâneas.

Deparou-se no meio de uma bagunça, por mais que diga que sua bagunça é organizada, ela acaba não encontrando o que quer, mas termina achando o que estava perdido. Aquela sensação de satisfação por ter achado aquele bem não é mais o mesmo, pois não lhe tem mais a mesma serventia, não é mais importante, mas ela guarda do mesmo jeito. Isso não é o problema. O problema todo é achar que não há espaço para nada. Não há espaço nas prateleiras, nas divisórias do armário, mesmo daqueles armários imensos que cobre uma parede, com 9 gavetas, 4 portas, 6 divisórias no maleiro e de quebra uma sapateira com 24 lugares. Ai vem a idéia: preciso de um armário maior! ...TAQUIPARIU!!!!

Livrar-se do que não mais lhe serve, faz parte de qualquer arrumação/renovação. E quando ela jogava certas coisas fora, ela sabia que não iriam mais voltar. Por isso ela se permitia viver na bagunça. Livrar-se do que não mais lhe servia era uma tarefa árdua. Mas ela estava presa às suas memórias e temia a idéia de um dia esquecê-las, ou de ser esquecida. E levava com ela o argumento de que toda aquela bagunça não era exatamente uma bagunça, podia ser para os outros, mas para ela era um grande baú de lembranças. Era na bagunça que ela conseguia organizar as lembranças mais reticentes. Fotos, diários confidenciais, cartas, presentinhos... Ordem a partir do caos. Acho que isso é comum de se vê.

[Ô, conheço uma pessoa que “coleciona” etiquetas de roupas em latinhas de biscoito. Fico me perguntando o que leva uma pessoa a querer colecionar etiquetas? Deve ser por achar o colorido bonito ou gostar do design e tem pena de descartar. Vai entender, é cada mania estranha.]

Ela esperava sair da bagunça sem ter que arrumá-la. Ela estava de frente a uma coleção/organização de lembranças em forma de cacarecos. E todo mundo, assim como ela, deve reorganizar a bagunça do pensamento e do espaço. Eu penso que nossa memória é nosso quarto, nosso ambiente íntimo. Ora arrumado, ora bagunçado. E ela tinha consciência disso, mas não tinha coragem de fazer. Foi ai que ela se levantou. Começou a descartar objetos. A se desprender de cartas dos ex, dos bichos de pelúcia que só preenchia o “pouco” espaço que havia naquelas caixas imensas que ocupavam a maioria de suas prateleiras. Começou a arrumar tudo, reuniu seus apetrechos sem serventia, separou suas roupas meio remendadas, livrou-se das coisas velhas.

Ela percebia o surgimento de espaços nas caixas, nas prateleiras, na sapateira, no maleiro e na memória. E ela se deu conta de que existiam lembranças que nunca deveriam ter saído das prateleiras, e sim esquecidas lá, pois assim evitaria a transformação de seu quarto/cabeça em um caos.

Por Iânua Brito


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